quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

ÓTIMO FILME SOVIÉTICO DIA 8 NO MIS-CAMPINAS



O sol enganador
(Nikita Mikhalova,1994)
Por Elís Braga

O sol enganador, um dos bons momentos do cinema soviético contemporâneo, contou com a direção de Nikita Mikhalova, russo, irmão de Andrei Mikhalkov Konchalonsky, e com a mesma ascendência artística célebre dos avós pintores.

Quando criança, sonhava em ser ator e aos doze já fazia figuração; aos dezoito, consegui seu primeiro grande papel. A partir de então, fez uma carreira bem sucedida em mais de vinte filmes ( seu irmão o considera um dos maiores atores do mundo), que cuminou com sua entrada no Instituto de Cinema de Moscou, onde estudou direção. Formou-se em 1970, com o filme de graduação Spokomji Denv Kontre Vorny (Uma jornada tranqüila ao fim da guerra), passando à direção de longa-metragens em 1974. Sua obra, desde então, tem sido bem recebida.

O sol enganador, produzido em 1994, revelou, mais uma vez, a sensibilidade do diretor, quando este consegue relacionar a repressão do stalinismo com uma suave crônica de uma família no interior da Rússia: uma história belíssima que ganha o Oscar de melhor filme estrangeiro e uma indicação na Palma de Ouro de Cannes em 1994, perdendo para Pulp Fiction de Tarantino.

Historicamente, a temática do filme se relaciona com a conjuntura da URSS em 1936, na qual Miklalkov, com uma linguagem poética, denúncia a repressão e o autoritarismo do stalinismo e a desorientação em que vivia a grande maioria da população. O sol enganador, na verdade, não é filme histórico, não obstante aborde uma temática histórica. Com uma forma refinada, através da linguagem poética, ele é uma mescla de realidade e ficção, com um pano de fundo que se desenrola em pleno verão de 1936, numa chácara localizada no interior da Rússia, onde vive uma mulher (Marúsia), feliz ao lado do marido, um alegre oficial, héroi da revolução (Kotov). O filme narra o cotidiano dessa família no periodo da afirmação do stalinismo, quando a revolução começava a devorar seus primeiros líderes e o oportunismo e a repressão tomavam conta da URSS. A situação se complica quando chega, de supresa, um antigo (primeiro) namorado e amante de Marúsia, um músico que havia se transformado em agente da polícia secreta stalinista. Memórias alegres e temores difusos vão se mesclando durante a longa crônica desse reencontro. É um belo acerto de contas com o stalinismo.

Historicamente, deixa muito a deseja no que diz respeito à falta de clareza com que são relatados os acontecimentos. Talvez o próprio diretor tivesse essa intenção. O nome do filme, O sol enganador, é bastante signifivativo e talvez sintetize a visão da URSS naquele período, onde próprios acontecimentos eram camuflados. Mas, mesmo assim, o filme resgata o perfil da sociedade soviética nos anos 30, dando ênfase exatamente ao aspecto enganador que era característico daquela sociedade. Ele também tenta mostrar os hábitos e os costumes, enfim, o cotidiano do povo soviético naquele período.

É importante também salientar, que o filme resgata muito bem, através das imagens (mesmo que fictícias), fatos relacionados à repressão, ao autoritarismo e às manifestações culturais, sociais, políticas e econômicas de uma URSS, que viveu muitos anos sufocada pelo poder repressor do Estado stalinista. Ele aborda, com muita sensibilidade, o jogo de poder que se estabelecia entre os líderes da revolução. Na verdade, o filme é uma tentativa de denunciar o stalinismo, nas suas mais diferentes formas de comportamento, desde as coletivizações forçadas, aos balões propagandísdicos da figura de Stalin até a interferência na escolha da música e do esporte do soviético. O sol enganador expressa que, apesar da revolução e da derrubada do czar, as conquistas foram ilusórias, uma vez que a URSS continuava sob o domínio do autoritarismo.

O sol enganador é um filme que merece ser visto, não só pela temática que aborda, mas também pela relação que se estabelecer entre o cinema e a história, mostrando com isso que a imagem é necessariamente uma arma da história no sentido de acelerar o entendimento dos acontecimentos históricos.

Nas palavras do cineasta, O sol enganador foi apenas "um misto de melodrama, filme de detetive e tragicomédia.". Para nós, que pretendemos análisá-lo de um outro ângulo, ele é um pouco mais.


Quando: Sexta, 08 de Fevereiro – 19h
Nome do filme: O SOL ENGANADOR
Direção de: Nikita Mikhalkov.
Onde: MIS - CAMPINAS
Endereço: Rua Regente Feijó, 859, Centro – Campinas. (19) 3733-8800
Quanto: NA FAIXA!
 
Resenha:
 
Maroussia, União Soviética, 1936. A família do coronel Kotov (Nikita Mikhalkov) vive feliz numa movimentada casa de campo até a chegada de Dimitri (Oleg Menshikov), antiga paixão da mulher de Kotov, que viria a destruir a felicidade da família de uma forma dramática.

Rússia/ França, 1994. Colorido, 152 min. Oscar 1995 (EUA) melhor filme estrangeiro.  

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