O sol enganador
(Nikita Mikhalova,1994)
(Nikita Mikhalova,1994)
Por Elís Braga
O sol enganador, um dos bons momentos do cinema
soviético contemporâneo, contou com a direção de
Nikita Mikhalova, russo, irmão de Andrei Mikhalkov
Konchalonsky, e com a mesma ascendência artística
célebre dos avós pintores.
Quando criança, sonhava em
ser ator e aos doze já fazia figuração; aos dezoito,
consegui seu primeiro grande papel. A partir de então,
fez uma carreira bem sucedida em mais de vinte filmes (
seu irmão o considera um dos maiores atores do mundo),
que cuminou com sua entrada no Instituto de Cinema de
Moscou, onde estudou direção. Formou-se em 1970, com o
filme de graduação Spokomji Denv Kontre Vorny
(Uma jornada tranqüila ao fim da guerra), passando à
direção de longa-metragens em 1974. Sua obra, desde
então, tem sido bem recebida.
O sol enganador, produzido em 1994, revelou,
mais uma vez, a sensibilidade do diretor, quando este
consegue relacionar a repressão do stalinismo com uma
suave crônica de uma família no interior da Rússia:
uma história belíssima que ganha o Oscar de melhor
filme estrangeiro e uma indicação na Palma de Ouro de
Cannes em 1994, perdendo para Pulp Fiction de
Tarantino.
Historicamente, a temática do filme se relaciona com
a conjuntura da URSS em 1936, na qual Miklalkov, com uma
linguagem poética, denúncia a repressão e o
autoritarismo do stalinismo e a desorientação em que
vivia a grande maioria da população. O sol enganador,
na verdade, não é filme histórico, não obstante
aborde uma temática histórica. Com uma forma refinada,
através da linguagem poética, ele é uma mescla de
realidade e ficção, com um pano de fundo que se
desenrola em pleno verão de 1936, numa chácara
localizada no interior da Rússia, onde vive uma mulher
(Marúsia), feliz ao lado do marido, um alegre oficial,
héroi da revolução (Kotov). O filme narra o cotidiano
dessa família no periodo da afirmação do stalinismo,
quando a revolução começava a devorar seus primeiros
líderes e o oportunismo e a repressão tomavam conta da
URSS. A situação se complica quando chega, de supresa,
um antigo (primeiro) namorado e amante de Marúsia, um
músico que havia se transformado em agente da polícia
secreta stalinista. Memórias alegres e temores difusos
vão se mesclando durante a longa crônica desse
reencontro. É um belo acerto de contas com o stalinismo.
Historicamente, deixa muito a deseja no que diz
respeito à falta de clareza com que são relatados os
acontecimentos. Talvez o próprio diretor tivesse essa
intenção. O nome do filme, O sol enganador, é
bastante signifivativo e talvez sintetize a visão da
URSS naquele período, onde próprios acontecimentos eram
camuflados. Mas, mesmo assim, o filme resgata o perfil da
sociedade soviética nos anos 30, dando ênfase
exatamente ao aspecto enganador que era característico
daquela sociedade. Ele também tenta mostrar os hábitos
e os costumes, enfim, o cotidiano do povo soviético
naquele período.
É importante também salientar, que o filme resgata
muito bem, através das imagens (mesmo que fictícias),
fatos relacionados à repressão, ao autoritarismo e às
manifestações culturais, sociais, políticas e
econômicas de uma URSS, que viveu muitos anos sufocada
pelo poder repressor do Estado stalinista. Ele aborda,
com muita sensibilidade, o jogo de poder que se
estabelecia entre os líderes da revolução. Na verdade,
o filme é uma tentativa de denunciar o stalinismo, nas
suas mais diferentes formas de comportamento, desde as
coletivizações forçadas, aos balões propagandísdicos
da figura de Stalin até a interferência na escolha da
música e do esporte do soviético. O sol enganador
expressa que, apesar da revolução e da derrubada do
czar, as conquistas foram ilusórias, uma vez que a URSS
continuava sob o domínio do autoritarismo.
O sol enganador é um filme que merece ser
visto, não só pela temática que aborda, mas também
pela relação que se estabelecer entre o cinema e a
história, mostrando com isso que a imagem é
necessariamente uma arma da história no sentido de
acelerar o entendimento dos acontecimentos históricos.
Nas palavras do cineasta, O sol enganador foi
apenas "um misto de melodrama, filme de detetive e
tragicomédia.". Para nós, que pretendemos
análisá-lo de um outro ângulo, ele é um pouco mais.
Quando: Sexta, 08 de Fevereiro – 19h
Nome do filme: O SOL ENGANADOR
Direção de: Nikita Mikhalkov.
Nome do filme: O SOL ENGANADOR
Direção de: Nikita Mikhalkov.
Onde: MIS - CAMPINAS
Endereço: Rua Regente Feijó, 859, Centro – Campinas. (19) 3733-8800
Quanto: NA FAIXA!
Resenha:
Maroussia, União Soviética, 1936. A família do coronel Kotov (Nikita
Mikhalkov) vive feliz numa movimentada casa de campo até a chegada de
Dimitri (Oleg Menshikov), antiga paixão da mulher de Kotov, que viria a
destruir a felicidade da família de uma forma dramática.
Rússia/ França, 1994. Colorido, 152 min. Oscar 1995 (EUA) melhor filme estrangeiro.
Rússia/ França, 1994. Colorido, 152 min. Oscar 1995 (EUA) melhor filme estrangeiro.
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